19 março 2011

mar da palha e hidroaviões


Onde hoje é o Oceanário do Parque das Nações, no início dos anos '40 existia o aeroporto marítimo de Cabo Ruivo, destinado a hidroaviões de longo curso (os famosos Clipper e Short Solent) operados pelas extintas companhias aérea Pan-Am (norte-americana) e Aquila Airways (britânica). Assinaram a construção desta obra Carmona, Salazar e Duarte Pacheco que pretendiam -ou pelo menos o último pretendia junto com a Pan-Am que o planeou- que este novo aeroporto estivesse equipado com a melhor tecnologia da altura, mas sem esquecer a arquitectura Estado-Novo em voga nesses anos e sem grandes luxos.
Para quem chegava da América, após 22h de vôo escalando os Açores num hidroavião luxuoso e em rota para outra cidade europeia, desembarcava no mar da palha e seguia de automóvel para o aeroporto terrestre da Portela de Sacavém, mas antes encantava-se certamente pela entrada no magnífico Tejo e passagem rente pela 'baixa' lisboeta vista do rio, enquanto fazia um brinde com um Porto em copo de cristal da Bóemia e arrumava os talheres de prata no prato de porcelana fina. A bordo do Yankee Clipper da Pan-Am era assim.
Em 1943 um destes hidroaviões amarou mal em virtude de fraca visibilidade e uma das asas roçou o rio: foi o suficiente para uma cambalhota mortal para mais de metade dos passageiros (24) e deixar outros em muito mau estado.
No final da década de '50 este aeroporto marítimo foi desactivado.
Portanto, na próxima vez que for ver trutas ou tubarões ao Oceanário, recorde-se que ali amaravam gigantes do ar.

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