28 outubro 2009

remastered: xelins

O meu 'processo de internacionalização' começou cedo: tive uma companhia austríaca durante algum tempo; ela acabou por passar grande parte do Verão de '79 neste país, repetente do ano anterior, mas dessa nova vez, acabámos por fazer uma volta alargada a este luso quintal pelo centro e norte, já que o sul tinha ficado explorado um ano antes. O comboio foi escolha óbvia para altura, de avião só mesmo entre Viena e Lisboa.
R. gostava de acompanhar quase todas as refeições -já lá chegamos- com café com leite. Uma ocasião, numa cervejaria na Figueira da Foz, fez-me passar por um momento nada convencional ao pedir um galão escuro para acompanhar uns camarões. 'a senhora vai mesmo querer um galão?' -perguntava-me o empregado de mesa incrédulo 'isso até é capaz de lhe cair mal' insistia ele, agora directamente para ela num 'portunhol' clássico, acabando eu por traduzir mas sem a demover. Não foi um, mas acabaram por ser dois. Mesas ao lado corroboraram a opinião do empregado 'olhe que isso vai fazer-lhe mal'. Pois sim, abelha. Mas não fez.
Multibanco na época era coisa que não existia, por isso, viajava-se com dinheiro vivo e uns travelers cheques (dela) para uma troca onde fosse possível, por outro lado, havia nos CTT uma espécie de 'banco postal' onde com uma caderneta se podia levantar dinheiro, previamente depositado: levantava-se 500 ou 1.000 Escudos (ou muito menos), o levantamento era anotado à mão idem o novo saldo e um carimbo dos CTT fazia fé do acto.
Na altura isto era recorrente para mim, porque em muitas zonas não havia agência bancária do BESCL (hoje apenas BES) mas Correios havia quase sempre, portanto era uma alternativa segura dentro do horário da estações e de segunda a sexta feira, claro está. Fim de semana tinha, portanto, de ser resguardado com tempo.
Se tudo correu bem no 'tour' pelo litoral, a coisa complicou-se quando nos embrenhámos pelo interior: apanhados sem o saber num turbilhão de greves que envolvia a banca, correios e transportes (e não me recordo se mais algum sector) fez-nos estacionar no Fundão no parque de campismo local, por muito mais tempo que inicialmente previsto. Pior ainda: comidinha estava esgotada, os travelers cheques já não existiam e o graveto nacional dava apenas para umas carcaças sem grande conduto. Subsistia uma única nota gorda de Xelins austríacos, que para ser cambiada num restaurante que a aceitasse, iríamos sair a perder e bem. Serviu essa nota de caução na recepção do parque de campismo por troca de umas conservas (leite também, naturalmente) e um telefonema internacional. De Graz, na Áustria, veio a salvação dias depois, num serviço da Marconi para a estação de correios do Fundão.
O instantâneo fotográfico aqui deste post, apanhou-me carregado de compras no supermercado local, na avenida principal do Fundão, depois de uma semana inteira a pão e caroços de azeitona.
Faltava ainda a CP funcionar. Mas isso é outra estória.

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