Voar é bom para as aves. Acontecimentos trágicos e recentes dão-me alguma razão.
Em pequeno, muito pequeno mesmo, tive a minha primeira 'iniciação aérea': voei de um 1º andar para aterrar nos braços de um funcionário dos telefones (na altura os TLP ainda não existiam por isso terá sido ainda a Anglo Portuguesa de Telecomunicações) que ao ver-me debruçar na varanda para apanhar uma flor no jardim em frente à casa, desceu rapidamente do poste e apanhou-me na chamada 'hora H'. Parece que aterrei junto com ele em cima da flor que queria e, a ele(s) -que não sei quem será- lhe devo a minha existência ainda por cá. De susto, quase que matei outros, claro está.
Portanto, algo terá ficado registado na minha 'caixa negra' que me relembra constantemente que voar, leia-se entrar num avião, não faz nem nunca fez e muito dificilmente alguma vez fará, as minhas delícias, a menos que tenha emborcado um garrafão de Jim Beam.
Evitei sempre que podia -e continuo a evitar- fazer deslocações de avião. Algumas vezes não consegui mesmo safar-me, outras, não me faltaram nunca candidatos de substituição para o embarque e outras ainda, simplesmente recusava sabendo que ia aterrar numa ilha com pista curta, portanto, o melhor seria sempre virem ter comigo -habituados que estão a esse rápido meio de transporte, como quem apanha o 28 para a Graça- e não o contrário.
Voos intercontinentais para mim são um tormento, hoje ainda mais por não poder estar demasiado tempo sentado sem que as costas avisem logo que o tempo limite acabou, o que me deixa uma rota curta do tipo Lx-Londres ou Lx-Paris, ou então, com sucessivas paragens o que nem sempre é fácil.
Um dos piores voôs que tive, em tudo: escalas, ligações atrasadas, duração, turbulência e sei lá que mais, foi a parte final (vindo de Nova Iorque) entre Las Vegas/Los Angeles/San Diego. Se já vinha mal desde a costa leste, pior fiquei quando, já de noite, consigo apanhar o último vôo da NorthWest de Los Angeles (LAX) para San Diego (SAN), debaixo de uma chuva de Outono e onde o aviãozito que me esperava para os teóricos últimos 65 minutos entre as nuvens era uma coisa parecida aqueles que voavam daqui para Bragança, só que este um pouquinho mais antigo e com um cockpit engraçado dividido por uma cortina grossa e pesada.
'Hi guys! Let'zzz rideee!' foi assim que o piloto bem disposto se apresentou ao entrar por último na máquina voadora e acenando para todos. Bom, quase todos, porque uma meia dúzia deviam ser passageiros frequentes, já que tiveram direito a um vigoroso aperto de mão. Como sempre li nos avisos do '28' que 'quem fala com o guarda-freio é moralmente responsável pelos acidentes que possa causar', optei pelo silencioso anonimato internacional e esperar para ver se aquilo descolava. Descolou (acho) mas demorou. A chuva atrasou, os solavancos mais que muitos, pelo que ainda tenho dúvidas se realmente voámos ou simplesmente rolámos. 90 minutos depois, o 'Major Alvega' chegava ao destino. Fui o último a sair; devia estar colado. A hospedeira (a única) percebeu. 'Feel good?' - 'Feel bad' disse-lhe. Ela riu-se e disse-me que uma chávena de café me punha fino. Talvez. Acabei por beber a zurrapa de cafeteira. Depois daquilo só mesmo um cigarrito me compunha a sério. Eram para aí 11 da noite.
Cá fora, os táxis pareciam ter acabado. Também não ia mandar a beata fora antes do tempo. Lá fiquei na zona à espera. Acabou por aparecer um poucos minutos depois.
'Hi. Coming from LAX?' perguntou-me o taxista. 'Actually coming from Lisbon' respondi-lhe enquanto punha a mala na bagageira. 'Gosh! Lisbon, North Dakota?' 'No. Lisbon-Portugal- Europe' disse-lhe. 'Lisboa? Você é português?' perguntou-me agora num português já demasiado ensaboado pelo sotaque americano. 'Sou' disse-lhe enquanto ele me estendia a mão 'Eu sou meio português: a minha mãe é brasileira, o meu pai americano e eu nasci em Faro no the Algarve'. Mário era o nome. A noite estava feita. E não foi o único enraizado portuga que encontrei numa semana.
'Para onde, Sir?' -'Grand Hyatt, mas não tenho pressa se neste táxi se puder fumar'.
Em pequeno, muito pequeno mesmo, tive a minha primeira 'iniciação aérea': voei de um 1º andar para aterrar nos braços de um funcionário dos telefones (na altura os TLP ainda não existiam por isso terá sido ainda a Anglo Portuguesa de Telecomunicações) que ao ver-me debruçar na varanda para apanhar uma flor no jardim em frente à casa, desceu rapidamente do poste e apanhou-me na chamada 'hora H'. Parece que aterrei junto com ele em cima da flor que queria e, a ele(s) -que não sei quem será- lhe devo a minha existência ainda por cá. De susto, quase que matei outros, claro está.
Portanto, algo terá ficado registado na minha 'caixa negra' que me relembra constantemente que voar, leia-se entrar num avião, não faz nem nunca fez e muito dificilmente alguma vez fará, as minhas delícias, a menos que tenha emborcado um garrafão de Jim Beam.
Evitei sempre que podia -e continuo a evitar- fazer deslocações de avião. Algumas vezes não consegui mesmo safar-me, outras, não me faltaram nunca candidatos de substituição para o embarque e outras ainda, simplesmente recusava sabendo que ia aterrar numa ilha com pista curta, portanto, o melhor seria sempre virem ter comigo -habituados que estão a esse rápido meio de transporte, como quem apanha o 28 para a Graça- e não o contrário.
Voos intercontinentais para mim são um tormento, hoje ainda mais por não poder estar demasiado tempo sentado sem que as costas avisem logo que o tempo limite acabou, o que me deixa uma rota curta do tipo Lx-Londres ou Lx-Paris, ou então, com sucessivas paragens o que nem sempre é fácil.
Um dos piores voôs que tive, em tudo: escalas, ligações atrasadas, duração, turbulência e sei lá que mais, foi a parte final (vindo de Nova Iorque) entre Las Vegas/Los Angeles/San Diego. Se já vinha mal desde a costa leste, pior fiquei quando, já de noite, consigo apanhar o último vôo da NorthWest de Los Angeles (LAX) para San Diego (SAN), debaixo de uma chuva de Outono e onde o aviãozito que me esperava para os teóricos últimos 65 minutos entre as nuvens era uma coisa parecida aqueles que voavam daqui para Bragança, só que este um pouquinho mais antigo e com um cockpit engraçado dividido por uma cortina grossa e pesada.
'Hi guys! Let'zzz rideee!' foi assim que o piloto bem disposto se apresentou ao entrar por último na máquina voadora e acenando para todos. Bom, quase todos, porque uma meia dúzia deviam ser passageiros frequentes, já que tiveram direito a um vigoroso aperto de mão. Como sempre li nos avisos do '28' que 'quem fala com o guarda-freio é moralmente responsável pelos acidentes que possa causar', optei pelo silencioso anonimato internacional e esperar para ver se aquilo descolava. Descolou (acho) mas demorou. A chuva atrasou, os solavancos mais que muitos, pelo que ainda tenho dúvidas se realmente voámos ou simplesmente rolámos. 90 minutos depois, o 'Major Alvega' chegava ao destino. Fui o último a sair; devia estar colado. A hospedeira (a única) percebeu. 'Feel good?' - 'Feel bad' disse-lhe. Ela riu-se e disse-me que uma chávena de café me punha fino. Talvez. Acabei por beber a zurrapa de cafeteira. Depois daquilo só mesmo um cigarrito me compunha a sério. Eram para aí 11 da noite.
Cá fora, os táxis pareciam ter acabado. Também não ia mandar a beata fora antes do tempo. Lá fiquei na zona à espera. Acabou por aparecer um poucos minutos depois.
'Hi. Coming from LAX?' perguntou-me o taxista. 'Actually coming from Lisbon' respondi-lhe enquanto punha a mala na bagageira. 'Gosh! Lisbon, North Dakota?' 'No. Lisbon-Portugal- Europe' disse-lhe. 'Lisboa? Você é português?' perguntou-me agora num português já demasiado ensaboado pelo sotaque americano. 'Sou' disse-lhe enquanto ele me estendia a mão 'Eu sou meio português: a minha mãe é brasileira, o meu pai americano e eu nasci em Faro no the Algarve'. Mário era o nome. A noite estava feita. E não foi o único enraizado portuga que encontrei numa semana.
'Para onde, Sir?' -'Grand Hyatt, mas não tenho pressa se neste táxi se puder fumar'.
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