22 outubro 2007

Responso


Foi preciso ver o 'Conta-me como foi' para me recordar de algo há muito esquecido: o responso. Neste caso, o responso a Sto. António, eterno vigilante das coisas perdidas, contudo, desde que não perdidas há demasiado tempo, porque nestas coisas também existe um prazo de validade.
E mais: não é admitido engano na invocação. Se ele ocorrer -o engano- é meio caminho andado para que aquilo que foi perdido, não se ache mais.
As invocações existem em versões mais alongadas ou curtas e incisivas como esta:

Contra males e demónios
rezar sempre a Santo António
aplaca as fúrias do mar

tira os presos da prisão
e o perdido faz achar

apareça , apareça o diabo sem cabeça.

A encenação é de igual modo necessária: uma cadeira voltada de pernas para o ar com um lenço com nó e por sua vez atado a uma das pernas, ou, o mesmo lenço preso debaixo de um pé de mesa, simboliza que dali Belzebu não sai, preso pela cauda. Esse, pelo menos, não atrapalhará o achado.
Diz a voz do povo, que é infalível. E nestes assuntos, o povo é quem mais ordena. Eu, não sei. Recordo-me sim, de ver e ouvir quando era garoto algo do género, do mesmo modo que ouvia os mais velhos falar da 'influência da lua' nas criancinhas que 'até podia ser fatal'. Para prevenir, ao terceiro dia após o nascimento, seria conveniente 'oferecer' o menino ou menina 'à lua' para que ela não entrasse, no tal modo mais desgraçado. Na soleira da porta, o ritual dizia-se assim:

Lua, luar

Aqui tens o meu menino(a)

Ajuda-mo a criar

Tu és a mãe

Eu sou a ama

Abençoa-o tu
Que eu lhe dou a mama.



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